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sábado, 24 de setembro de 2011

Salutogênese - Parte II


Reunião em 15/9/2011

Parte II
(apontamentos de Anísia Motta)


Até que ponto a pedagogia Waldorf é salutogênica?
Quando uma criança nasce, precisa de 6 a 8 anos para a maturação básica do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos. Só depois desse tempo, o sistema cardiorrespiratório atinge a condição adulta. Leva entre 18 e 21/22 anos para o sistema metabólico e esquelético atingirem a maturidade. De 21/22 anos até 45 anos para termos certa estabilidade fisiológica, para depois ocorrer a queda, a curva descendente de nossa biologia. É inevitável, nada a impedirá e virá o amém da Igreja. Nem academia, hormônios ou outros recursos poderão impedir que o processo se complete. O que amadurece por último, envelhece primeiro. Se a cabeça já fosse deteriorando, seria o caos. Começa com o metabolismo (diabetes II), sistema esquelético (joelhos, pescoço, coluna...), surgem problemas biliares, cálculos renais... Estatisticamente, até 42 anos tem-se o pico da vida. Aos 60 anos aparecem perturbações do ritmo cardíaco (hipertensão p.ex.), patologias pulmonares. Entre 60 e 70 anos vêm necessariamente, os óculos, aparelhos auditivos, “terceira” dentição, agendas sobressalentes para ajudar no que se esquece. A memória de curta duração se compromete mesmo em pessoas sadias.
O que se faz como tratamento complementar, ao lado dos medicamentos, usado na pedagogia Waldorf para ajudar o desenvolvimento das forças corpóreas sadias: aconselhamento de vida, biográficos; como lidar com as crises, psicoterapia. É preciso encontrar um novo ideal de vida, senão o adoecimento vem mais rápido. Na consulta, é preciso perguntar, para descobrir o que se deseja, qual é a meta da vida. É necessário acender o idealismo. Quando se consegue isso, o medicamento funciona e as mazelas são superadas.
Os alunos, no ensino médio, precisam aprender a pensar autonomamente, superar as crises típicas da adolescência, não perder o entusiasmo pela vida; o idealismo não pode ser destruído na escola, mas estimulado. Se isso não acontece no ensino médio, não pode renascer mais tarde. Se não se conseguir isso, ocorrem problemas cardiocirculatórios e respiratórios. Terapia artística, eurritmia, tudo que leva a mover-se ritmicamente, liberta a região do coração – isso corresponde à faixa etária até 7/8 anos, quando, na pedagogia Waldorf tudo isso é levado à ação. É uma fonte de saúde que será levada muito bem nessa faixa etária e evitará doenças que poderiam ocorrer.
Como médica pediatra, a palestrante reconheceu que a pedagogia Waldorf é uma medicina preventiva. Quanto mais saudável a “encarnação”, mais saudável a “escarnação”. Contos de fada, conteúdos com grandes imagens, contos de Grim... cada um desses contos mostra um processo evolutivo, até sua conclusão: as crianças desenvolvem uma consciência imagética profilática. Com pessoas idosas, diante de dificuldades de memória, busca-se transmitir grandes imagens. Estudo feito com freiras revelou que elas tinham menos Alzheimer porque elas teriam vida mais saudável. Perguntou-se: elas são diferentes? O estudo comparativo do cérebro revelou que as freiras também apresentavam placas no cérebro, mas, elas não evoluíram para Alzheimer. Concluiu-se que a vida ritmada delas – repetição de orações, de histórias bíblicas, os evangelhos (não mecanicamente) dos quais se busca sempre coisas novas, como crianças que não se aborrecem com a repetição das histórias – traria grandes benefícios. Elas teriam também atividade mental muito intensa, o que as ajudou a desenvolver mecanismos compensatórios – as áreas cerebrais que declinavam eram compensadas.
(continua)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Salutogênese - Dra. Michaela Glooeckler* - Parte I

Reunião em 15/9/2011

Parte I
(apontamentos de Anísia Motta)




O conceito de salutogênese é de Anon Antonovsky. Quando Rudolf Steiner faleceu, Antonovsky tinha dois anos de idade. Steiner, este ano, faria 150 anos de vida.
Etimológicamente, salutogênese significa origem da saúde: do latim salus (saúde) e do grego gênese (origem).
De 1970 a 1978, Dra. Michaela fez seus estudos de Medicina. Para ela, o conceito de saúde elaborado pela Organização Mundial de Saúde deixa muito a desejar, pois para a ONU, saúde é "bem-estar físico, anímico e espiritual". Segundo ela, isso não diz nada e para isso não é necessário estudar medicina.
Hoje, sabe-se muito a respeito de saúde. Em 1979, criou-se na Alemanha a primeira cadeira que cuida da Saúde; hoje, existe a Ciência da Saúde.
É interessante ver o que desencadeia um movimento novo. Por ser alemã, aquilo que fez Antonovsky (que era judeu), toca-a muito. Imigrado para os EUA, estudou sociologia médica. Após a guerra, surgiu um estado judeu e Antonovsky transferiu-se para Israel, em 1980. Na Universidade de Bersheva, foi incumbido da saúde de senhoras idosas. Descobriu algo que o surpreendeu muito: entre as idosas, as sadias eram sobreviventes do holocausto. Pelos estudos médicos, os sobreviventes deveriam sofrer de síndromes pós-traumáticas intensas. Obviamente, existiam portadoras destas síndromes, mas a maioria era saudável. Então ele começou questionar a razão de tais dados e os seus encontros com essas senhoras lhe permitiram chegar às suas descobertas. A partir daí, resumiu o conceito do que confere/concede saúde: COERÊNCIA, referindo-se à RELAÇÃO.
A vida é um sistema inter-relacionado, o mais complexo que se conhece. Cada sistema, cada célula precisa ter um meio interno com ritmo, certas funções. Além de um meio interno regular, temos contato com o meio externo, somos um sistema aberto.
Uma das vivências mais bonitas de Dra. Michaela, na sua experiência com escolas, durante 10 anos, foi sobre a diferença entre o vivo e o novo. Uma menina lhe respondeu que o que é vivo, precisa de contexto, uma coerência interna e externa. Antonovsky dizia que: o que não se adequa ao ambiente, prejudica-se muito fortemente. O aspecto decisivo é sentir uma relação boa com o ambiente. Esse sentimento de coerência se vincula à:
·         Compreensão
·         Vivência de algo com sentido
·         Manuseabilidade (como lidamos com as coisas)
Nossa alma precisa dessas três competências: pensar, sentir, querer.
Na escola, uma criança que não compreende nada, não consegue ficar bem, sente-se doente.
Às vezes compreende, mas acha tudo muito tedioso, chato. Isso não é saudável também. Os sentimentos vão para o vazio, não se estabelecem relações, fica tudo muito solto.
Numa terceira situação, ela compreende, [as coisas] tem sentido, mas não consegue fazer nada daquilo que os outros conseguem. Isso também é pouco saudável.
A descoberta de Antonovsky percebe que esses três sentimentos são fundamentais para a manutenção da saúde, que deve ser atingida até os 25 anos. Antonovsky não conheceu Steiner e não se refere a ele, mas ambos têm a mesma visão.
Se se tem uma visão de mundo e é possível adequar as coisas a ela, com um sentido, isso é saudável; caso contrário, tudo se perde. Uma visão de mundo que me dê sentido me concederá sentimento e capacidade de manusear sensatamente [a situação]. Como ter uma visão de mundo tão dinâmica, compreendendo a si próprio e ao mundo? Quando valorizamos alguma coisa, ela passa a ter sentido para nósquando conseguimos lidar com alguma coisa que se afina conosco e com nosso contexto, somos beneficiados por isso.
Abraham Maslow fazia parte dos psicoterapeutas positivistas, era um humanista (não era psicanalista). Maslow estava estudando as condições para a saúde da alma e descobriu as mesmas coisas que Antonovsky e algo mais. Entre as pessoas mais sadias, sobreviventes do holocausto, estavam as que tinham experiências espirituais, experiências “apicais de outro caminho”. Entende-se como nessas condições anti-humanas do holocausto, não deve ter havido poucas pessoas que tiveram experiências da proximidade de Deus.
Antonovsky descobriu três qualidades para que as relações se otimizem. Como psicólogo, as viu como procedentes das relações inter-humanas. Uma relação interpessoal concede saúde; é boa quando é honesta, sincera. Em segundo lugar, se essa relação tem cunho amoroso e, em terceiro lugar, se essa relação está permeada pelo respeito à autonomia do outro. Uma alma não se sente se não tem liberdade. Não adianta a mãe ou a professora dizer que compreende a criança; o aspecto importante é a própria criança sentir-se compreendida.
Nos sentimos compreendidos pelo outro quando somos olhados de tal maneira que não fiquemos menores ou que o outro nos coloque maiores do que somos, num pedestal. As duas situações não são saudáveis.
Goethe fez um poema à sua amada – “Eu me senti bom aos seus olhos”, que encantou Michaela. Ela conta que o poeta, antes, enviou mais de 300 desenhos da natureza, que fez para a namorada. Esta, reclamou porque ele poderia escrever uma carta de amor, um poema e não ficar enviando desenhos de pedra, árvore, nuvem... Ele escreveu-lhe dizendo: olho para a natureza com delicadeza e tenho desejo que você aprenda a olhá-la através de meus olhos.


A magia de um olhar amoroso é fonte de saúde. Quanto mais sinceridade e respeito recebemos, mais nos sentimos sadios na alma.


*Michaela Glooeckler: médica pediatra, co-fundadora da Aliança da Infância, trabalha pela preservação internacional da Pedagogia Waldorf, da Agricultura Biodinâmica. É médica antroposófica, cuida do currículo social voltado à infância)