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terça-feira, 31 de maio de 2011

Esperar contra toda esperança *

Reunião do dia 28/5/2011

Cristo, nossa esperança

A Ressurreição de Cristo, fundamento de esperança
     A esperança do cristão tem nome: Jesus Cristo. E fundamenta-se em um fato: sua ressurreição. A esperança do cristão, capaz de "esperar contra toda esperança" nasce do crucificado, que foi ressuscitado por Deus. Nele nos é revelado o futuro da humanidade, o caminho que pode levar o homem à sua verdadeira plenitude: a morte não tem a última palavra. O ser humano pode esperar algo mais do que simplesmente brota das possibilidades próprias do homem e do mundo.
    A ressurreição é a última palavra de Deus sobre o destino final dos maltratados: a miséria, o desemprego, a humilhação, a exploração não são a realidade definitiva da vida. Quem luta por um mundo mais justo e solidário, um dia conhecerá Jesus.
    A resssurreição de Cristo revela que há perdão para o homem e que seguindo seus passos caminharemos até o Seu destino final.
    Temos também que colocar-nos: que exigências concretas tem para nós, hoje, a pessoa de Jesus e sua mensagem. O que podemos esperar dele? Que possibilidades concretas encontram-se em Cristo ressuscitado para a história humana?
    Cristo é nossa esperança e a partir dela, aprendemos a crer em Deus e a desvendar o sentido último do homem.

O Deus da esperança
    Este é o verdadeiro nome de Deus.
    Em Cristo nos foi revelado que "Deus é amor (1Jo 4, 8), porém, amor ressuscitador. Por isso, Deus é para nós o Deus da Esperança (Rm 15, 13). Não só o Criador, mas o ressuscitador, que no final, realiza a "nova criação". Deus está no início e no final.
    A partir dessa perspectiva, podemos dizer que o peculiar de Deus é, sobretudo, o futuro último. Deus está presente em nossa vida, prometendo, garantindo e abrindo futuro. Mais que dentro de nós ou acima, temos Deus diante de nós.
    Deus não descansará até que a vida que nasceu de seu amor insondável de Pai vença, definitivamente, a morte e apareça a "nova criação" em todo o seu esplendor. Não se revelará plenamente como Deus Salvador até que o homem alcance sua "humanização plena". Sua justiça e seu perdão não se manifestarão em plenitude, até que Deus seja tudo em todos (1Cor 15, 28). Enquanto isso, tudo se encontra a caminho: a ação salvadora de Deus, a força transformadora da ressurreição, a construção da nova humanidade. E Deus está aí: "Eterna presença do triunfo de Cristo crucificado" (J. Moltmann).

O homem tem futuro
    Com a ressurreição de Cristo, Deus introduz na história humana algo que deve ser captado como novo. Algo que não se pode deduzir das leis gerais da história ou do progresso humano. Um futuro novo que "revoluciona e transforma as pobres expectativas humanas" (M. Fraijo). Não se trata de uma possibilidade nova dentro do mundo e da história, algo que o homem possa conseguir com seu esforço, mediante a racionalidade científica e técnica, mas a nova possibilidade que Deus oferece ao mundo e que o homem pode acolher como graça.
    As novas possibilidades abertas pela ressurreição obrigam a olhar e compreender a história de modo novo. Na história humana, nem tudo são dados, medidas e datas. O futuro do homem não se reduz a projetos, programas e extrapolações, que às vezes geram otimismo e outras, pessimismo. O espaço para a esperança cristã ultrapassa tudo o que pode ser projetado e preparado pelo homem. Por isso, a esperança que brota de Cristo ressuscitado pode manter-se e crescer contra toda esperança, inclusive em momentos de crise, incerteza e pessimismo.
    A partir desta esperança cristã, qualquer momento da história é sempre um tempo que não contém ainda toda a justiça, a libertação e a vida que esperam o homem. Nunca estamos "no melhor dos mundos". Tudo pode melhorar e transformar-se, orientando-o até esse futuro prometido na ressurreição. A história não acabou. Sempre é possível a mudança, a transformação, a luta por uma humanização mais plena.

*Fragmentos do livro Es bueno creer. Para uma teologia de la esperanza - José Antonio Pagola

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Homem, imagem e semelhança de Deus

Texto extraído de: “O inconsciente espiritual” ,  Jean-Claude Larchet , Páginas 22 e 23
Colaboração: Anísia

A antropologia cristã tem uma característica essencial: não concebe o ser humano independentemente de sua relação com Deus. Esta relação com Deus caracteriza o ser humano ao mesmo tempo em seu ser e em seu vir a ser.
A base da antropologia cristã é bíblica e reside na afirmação de que o homem foi criado à imagem e à semelhança de Deus (Gn 1,26). Esta afirmação, ainda que se encontre no livro do Gênesis e apareça no contexto da criação do homem, não diz respeito somente ao primeiro homem, mas aplica-se a todo ser humano. Portanto, refere-se à natureza mesma do ser humano e é constitutiva de sua definição.
A imagem designa sobretudo a constituição natural do ser humano. O homem é a imagem de Deus em sua própria natureza, sobretudo pelas faculdades superiores que possui: seu intelecto (nous), sua razão (logus), sua vontade (thelema, thelesis), sua faculdade de escolha (proairesis), seu poder de amar. Mas, um certo número de comentários patrísticos sublinha que o ser humano, na realidade, é um ser à imagem de Deus pelo conjunto de suas faculdades.
Enquanto a imagem é dada de imediata ao ser humano, como constitutiva de sua natureza, a semelhança deve ser adquirida pessoalmente por ele: consiste nas virtudes, nas disposições habituais ou estados espirituais que unem o ser humano a Deus e o tornam semelhante a Ele. Podemos dizer que a imagem de Deus refere-se mais particularmente ao ser do homem, enquanto a semelhança refere-se mais especificamente a sua maneira de ser, mais exatamente a seu estar bem, e inicialmente ambas apresentam-se a ele como um dever-ser.
Entretanto há uma relação estreita entre a imagem e a semelhança.
Em primeiro lugar, a imagem é o que permite ao ser humano realizar a semelhança: é sobre a base dos poderes ou faculdades constitutivas da imagem e por meio de sua energia que o ser humano poderá efetivar as virtudes pelas quais se realizará a semelhança.
Em seguida, como sublinham alguns comentários patrísticos, as virtudes já estão presentes em gérmen na própria natureza do ser humano e cada pessoa tem como tarefa fazê-las crescer em si mesma. Assim, segundo o livro do Gênesis, Deus não diz “ Criemos o homem a nossa imagem, em vista de nossa semelhança”, mas “a  nossa imagem e a nossa semelhança”, porque a semelhança já foi dada, em uma certa medida, ao ser humano desde a sua criação: o ser humano foi criado sendo orientado para realização da semelhança e começando já a realizá-la.
Enfim, na realização da semelhança a imagem realiza sua finalidade e encontra seu acabamento e sua perfeição. Assim um indivíduo dotado de inteligência, de vontade e de livre arbítrio, mas que não fosse moderado, casto, desinteressado, meigo, humilde, bom etc..., não seria uma pessoa realizada nem perfeita ( cf. Ef 4,13).

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Esperar contra toda a esperança*

Reunião do dia 31/4/2011


Capítulo 3
Alguns traços do homem desesperançado

Quando em uma sociedade morre a esperança, a vida da pessoas deteriora-se. Sociólogos e psiquiatras descrevem, em suas análises, os traços que parecem definir, de maneira cada vez mais clara, o perfil do homem desta sociedade sem esperança. Destacamos alguns:
  • sem metas nem referências: não têm certezas firmes nem convicções profundas; busca muita informação, mas isso não o ajuda a ser mais sábio e profundo; incapaz de fazer uma síntese das inúmeras informações que lhe chegam;
  • homem light: esvaziado do verdadeiro conteúdo humano, como os modernos produtos de baixa caloria e atenuados em sua força natural (leite desnatado, café descafeinado...); um homem interessado em muitas coisas, mas de maneira superficial, com pouca profundidade, sem critérios básicos de conduta; chama o sexo de amor; ao prazer, de felicidade, aos programas televisivos, cultura.
  • homem hedonista: só lhe interessa, de verdade, organizar a vida da forma mais prazeirosa possível; aproveitar, desfrutar, sugar: a vida é prazer e se assim não for, não é vida. Apenas interessam o próprio bem-estar, o seu dinheiro ou passar bem; busca-se o mais fácil, o mais cômodo, o que se pode conseguir apenas mostrando o cartão de crédito. Êxito é sinônimo de dinheiro. Resistência em aceitar normas ou códigos de comportamento. "Bom é o que eu gosto e mau o que eu não gosto" é a regra que não aceita proibições; nada de objetivos nem ideais maiores: "o que importa é o que me convém".
  • espectador passivo: aparentemente está em movimento, mas não vai a parte alguma - é massificado, produtor, consumidor, automobilista, receptor da indústria do ócio, configurado pela cultura televisiva - cada vez mais incapaz de pensar livremente, tem repostas preparadas, quais as emoções "tem" que sentir, que comportamento tem a adotar; um "bárbaro civilizado" que vai alcançando graus cada vez maiores de incopetência, ignorância e falta geral de responsabilidade.
  • individualista e solidário: quando não se tem esperança em um futuro melhor para todos, cada um busca resolver seu problema - é o "salve-se quem puder", o "cada um com seus problemas"; importa ganhar dinheiro, seja como for; "vale tudo" para conseguir benefícios. Os grandes valores éticos, na prática, são substituidos pelos interesses particulares. "Tudo se compra e se vende" (Cláudio Magis).
  • buscador de segurança: na crise, o homem contemporâneo busca segurança - exigem-se leis e fronteiras mais restritas para os estrangeiros, repressão mais dura para os delinquentes, contratam-se guardas de segurança, os ricos instalam sistemas de proteção. Ninguém quer pensar responsavelmente nos que sofrem miséria e mal-estar. Caldo de cultura para novos racismos, xenofobias e tendências neoconservadoras.
  • diferentes rostos da desesperança: a falta de esperança reflete-se de diversas formas na vida das pessoas. Os sinais de desesperança são fáceis de observar: falta de decisão, de entusiasmo, vida apagada, sem força e calor; a pessoa faz mais ou menos o que tem que fazer, porém a vida não lhe plenifica. Mesmo que o indivíduo esteja satisfeito com suas atividade e sucessos, não espera grande coisa da vida nem de si, nem dos demais: fica fechado no seu viver diário. A falta de esperança também se manifesta sob a forma de cansaço: a vida torna-se pesada, enfadonha; a pessoa sente-se sufocada pelo peso da vida e pouco a pouco cai na indiferença e na preguiça total. Há falta de alegria, incapacidade de apreciar o belo, o bom, a grandiosidade da vida. Tristeza e mau humor tornam-se a tônica. Vazio. A vida se empobrece, o indivíduo envelhce interiormente.
Cristo nossa esperança
É no meio desta sociedade carente de esperança que nós cristãos temos que "dar razão de nossa esperança" (1Pe 3, 15) a nós mesmos e às pessoas com as quais partilhamos a vida. Uma esperança que não é uma utopia a mais, nem uma reação desesperada frente às crises e incertezas do momento, mas que tem suas raízes em Jesus Cristo, crucificado pelos homens, porém, RESSUSCITADO POR DEUS.


Síntese das discussões

  • indiferença ao IMPORTANTE;
  • muita informação dificulta a síntese/alienação
  • superfície/profundo: próprio bem estar X coletivo
  • limite/cuidado importantes na educação
  • Espectar X esperar. Espectar: pensam por mim; só pode gerar busca de segurança. Esperar: sou eu que penso; gera confiança, segurança verdadeira.
  • perversidade do sistema capitalista e do sistema político: desesperança incentivada
  • ideologia: esconde/articula de maneira insuficiente, impedindo de ir às causas
  • Denúncia deve ser acompanhada de anúncio

Textos de apoio utilizados

Sugestões

  • Pedro Pedreiro
     
  • Desesperar jamais
     



*Fragmentos do livro
Es bueno creer. Para uma teologia de la esperanza - José Antonio Pagola