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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Salutogênese - parte III




Reunião em 15/9/2011

Parte III
(apontamentos de Anísia Motta)

    A Salutogênese tem cinco princípios para serem seguidos na educação escolar:

1. A educação segue rigorosamente a cronologia da criança. Elas não podem repetir de ano porque seu cropo não vai parar de crescer, precisam de nutrição que corresponda a sua idade. Um ambiente sadio também faz parte desse primeiro princípio, como a proteção contra o que causa traumas nessa idade. Hoje, fala-se muito de vivências traumáticas e a criminalidade frequente agrava a situação.  A maneira como se aborda tais ocorrências, o jeito de falar, pode criar certa proteção às crianças. Mas o que vem pelas mídias penaliza-as muito. É preferível poupá-las de seu livre acesso a elas, sozinhas. Elas roubam o tempo da criança, que poderia ou deveria movimentar-se. Tolhe-lhes a criatividade para elaborar seus pensamentos por si. O que nos deixa sadios até idade avançada é essa criatividade interior e não o mero consumo, que oferece tudo pronto.

2. Currículo elaborado, correspondendo estritamente à faixa etária - é verdadeira psicologia e fisiologia do desenvolvimento. Steiner quis que os conteúdos fossem trazidos em ritmo de quatro semanas, através de várias matérias. A partir da cronobiologia e reabilitação, sabe-se que o ritmo de cura se faz em ritmo de quatro semanas. Em quatro semanas estabelece-se um hábito, férias de quatro semanas são mais saudáveis que de duas ou três semanas... Steiner propõe que se fale de drogas, álcool, sono, questões de saúde... mas, sempre tudo relacionado aos problemas globais, à economia. Dra. Michaela foi estudar tudo isso para perceber a relação dessas realidades com saúde. Na Europa, há a política de subvenções de manteiga, leite, cereais... lá se produz leite excessivamente, mas não saudavelmente... para as vacas. Esses excessos são transformados em leite em pó e manteiga e estocados, para manter os preços elevados. Como ninguém quer pagar o transporte para distribuição desses excedentes, para o terceiro mundo, então ele é destruído. Ela então, se deu conta do absurdo da economia moderna, do sistema absurdo do qual todos participam. Steiner dizia que se deveria comparar o cancer com o crescimento econômico, o comportamento financeiro: não está de acordo com a vida; a economia assemelha-se a um carcinoma social. Dinheiro sadio deve circular de forma saudável e a produção deve estar diretamente determinada pela demanda, ocupando adequadamente as pessoas, sem provocar desemprego.
    Os conteúdos curriculares, segundo Steiner, devem contemplar o funcionamento biológico: assim, no período da manhã, deve-se tratar daqueles que exigem mais da cabeça; à tarde, os que exigem da parte motora. Isso, comenta Dra. Michaela, está de acordo com o que se aprende na medicina. De manhã há mais fluxo sanguíneo na cabeça; à tarde, mais nos membros. Mas, infelizmente, não se consegue realizar desta forma os currículos, em todos os lugares.

3. A boa relação entre pais/professores/alunos - sobretudo a boa relação pedagógica professor/aluno - com sinceridade, compreensão e respeito. Steiner perguntava aos alunos se gostavam de seus professores e não o contrário. A inteligência emocional, ainda não conhecida então, era preocupação de Steiner, na medida em que ele cuidava do envolvimento emocional positivo, sem o qual não se aprende bem. O aluno precisa perceber a devoção do professor à verdade, ao conhecimento. Toda educação deve ter por objetivo a autonomia.

4. Metodologia: deve ser artística, o que significa que o ensino deve ser orientado por metas, mas também, por processos. Isso é típico da arte, que tem metas, mas exige que se treine e, ao longo desse treino, algo da meta vai se manifestando. O aspecto decisivo é que cada criança é artista e deve ir aprendendo de forma autônoma.

5. Orientação espiritual do professor. Steiner foi criador da Antroposofia... uns pensam que é religião, filosofia, sistema espiritual moderno. Steiner tem um conceito claro de espiritualidade como sendo o pensar do ser humano. Pensar, para ele, é competência espiritual; sem pensamento não compreendemos. O que sabemos sobre Deus é produto de nosso pensamento. Falar, usar palavras que não se conhece o significado, nada representam, não remetem a nada. Toda a obra filosófica de Steiner é derivada do fundamento pensar. A Antroposofia quer ser o caminho de conhecimento que pretende conduzir o que há de espiritual dentro de nós, que é o pensar, no que há de espiritual no universo. Steiner mostra em todos os detalhes que a ciência espiritual, como o pensar do ser humano, está em coerência com a natureza, o mundo. Não é por milagre que pelos pensamentos é que se descobre as leis da natureza, da matemática. De toda forma, estimulou os professores a desenvolverem seus próprios pensamentos, da maneira mais autônoma. Esse tipo de espiritualidade está de acordo com qualquer religião. O pensamento é o caminho de compreensão para toda religião. O pensar não é religião, mas é o caminho para compreendê-la.
   O professor se exercita em pensar autonomamente e desenvolver uma imagem espiritual, não materialista e acima de todas as religiões.

   "Aprendemos para compreender o mundo. Aprendemos para trabalhar no mundo. O amor entre as pessoas vivifica todo trabalho humano."
    "Cristo  é o Mestre dos mestres, o Mestre do amor humano. É importante que os professores saibam que tem um Mestre ao qual podem pedir conselhos diariamente"

(Citações de Steiner, retiradas de uma festividade dominical da primeira escola Waldorf - devem ser entendidas como um manifesto salutogênico)

A pedagogia Waldorf é considerada cristã, mas supraconfessional. Quando Maslow estudou a alma, descobriu que a alma saudável é sincera, amável, respeitosa, dá autonomia ao outro. Isso é salutogênese e isso aparece no Evangelho de João: conhecer a verdade que nos libertará. "Quando dois ou mais se reunirem em meu nome, estarei no meio deles". É possível reconhecer que são mais discípulos pelo amor que os une.
   No terceiro ano de vida é que começa o pensar. A primeira atividade autônoma aconteceu no andar. No segundo ano, quando a criança aprende a falar, só diz a verdade; só quando aprendemos a pensar é que mentimos.
   No terceiro ano de vida acontece a primeira atividade mental autônoma; quando a criança diz EU, começa a atividade consciente. Vivemos uma vida eterna nos pensamentos espirituais; vivemos uma vida passageira dentro de nosso corpo. O paradigma salutogênico é: a mesma inteligência com a qual o ser humano pensa é a mesma com a qual o corpo vive.
    A autorregulação dos processos de autocura é que nos encarna como seres anímicos espirituais. As forças de crescimento abandonam o corpo quando nada mais tem a fazer com ele. Já se transforma em vida eterna, em vida de pensamento. Refletimos nosso pensamento no cérebro. Quando se tem uma experiência de quase morte, acorda-se no pensar. Podemos imaginar que vai se encarnando sob as asas da vida eterna e chega um momento que se "escarna" da vida passageira. Quando morremos é que nascemos espiritualmente. Se eu fosse uma pessoa maravilhosamente espiritual, não teria a chance de me encarnar em um corpo e não saberia o que é um ser humano. Quem não morre antes de morrer, este degenera antes de morrer. Se no processo de pequenas mortes, eu não reconhecer o aspecto espiritual, perco a consciência individual.

"Admirar o belo, guardar o verdadeiro, admirar o que é nobre, decidir o que é bom - isso conduz o ser humano para atuar o que é correto, sentir em direção à paz e pensar em direção à luz, me ensina a confiar no reinar divino, em tudo que há no universo, nas profundezas da alma" - Steiner.

sábado, 24 de setembro de 2011

Salutogênese - Parte II


Reunião em 15/9/2011

Parte II
(apontamentos de Anísia Motta)


Até que ponto a pedagogia Waldorf é salutogênica?
Quando uma criança nasce, precisa de 6 a 8 anos para a maturação básica do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos. Só depois desse tempo, o sistema cardiorrespiratório atinge a condição adulta. Leva entre 18 e 21/22 anos para o sistema metabólico e esquelético atingirem a maturidade. De 21/22 anos até 45 anos para termos certa estabilidade fisiológica, para depois ocorrer a queda, a curva descendente de nossa biologia. É inevitável, nada a impedirá e virá o amém da Igreja. Nem academia, hormônios ou outros recursos poderão impedir que o processo se complete. O que amadurece por último, envelhece primeiro. Se a cabeça já fosse deteriorando, seria o caos. Começa com o metabolismo (diabetes II), sistema esquelético (joelhos, pescoço, coluna...), surgem problemas biliares, cálculos renais... Estatisticamente, até 42 anos tem-se o pico da vida. Aos 60 anos aparecem perturbações do ritmo cardíaco (hipertensão p.ex.), patologias pulmonares. Entre 60 e 70 anos vêm necessariamente, os óculos, aparelhos auditivos, “terceira” dentição, agendas sobressalentes para ajudar no que se esquece. A memória de curta duração se compromete mesmo em pessoas sadias.
O que se faz como tratamento complementar, ao lado dos medicamentos, usado na pedagogia Waldorf para ajudar o desenvolvimento das forças corpóreas sadias: aconselhamento de vida, biográficos; como lidar com as crises, psicoterapia. É preciso encontrar um novo ideal de vida, senão o adoecimento vem mais rápido. Na consulta, é preciso perguntar, para descobrir o que se deseja, qual é a meta da vida. É necessário acender o idealismo. Quando se consegue isso, o medicamento funciona e as mazelas são superadas.
Os alunos, no ensino médio, precisam aprender a pensar autonomamente, superar as crises típicas da adolescência, não perder o entusiasmo pela vida; o idealismo não pode ser destruído na escola, mas estimulado. Se isso não acontece no ensino médio, não pode renascer mais tarde. Se não se conseguir isso, ocorrem problemas cardiocirculatórios e respiratórios. Terapia artística, eurritmia, tudo que leva a mover-se ritmicamente, liberta a região do coração – isso corresponde à faixa etária até 7/8 anos, quando, na pedagogia Waldorf tudo isso é levado à ação. É uma fonte de saúde que será levada muito bem nessa faixa etária e evitará doenças que poderiam ocorrer.
Como médica pediatra, a palestrante reconheceu que a pedagogia Waldorf é uma medicina preventiva. Quanto mais saudável a “encarnação”, mais saudável a “escarnação”. Contos de fada, conteúdos com grandes imagens, contos de Grim... cada um desses contos mostra um processo evolutivo, até sua conclusão: as crianças desenvolvem uma consciência imagética profilática. Com pessoas idosas, diante de dificuldades de memória, busca-se transmitir grandes imagens. Estudo feito com freiras revelou que elas tinham menos Alzheimer porque elas teriam vida mais saudável. Perguntou-se: elas são diferentes? O estudo comparativo do cérebro revelou que as freiras também apresentavam placas no cérebro, mas, elas não evoluíram para Alzheimer. Concluiu-se que a vida ritmada delas – repetição de orações, de histórias bíblicas, os evangelhos (não mecanicamente) dos quais se busca sempre coisas novas, como crianças que não se aborrecem com a repetição das histórias – traria grandes benefícios. Elas teriam também atividade mental muito intensa, o que as ajudou a desenvolver mecanismos compensatórios – as áreas cerebrais que declinavam eram compensadas.
(continua)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Salutogênese - Dra. Michaela Glooeckler* - Parte I

Reunião em 15/9/2011

Parte I
(apontamentos de Anísia Motta)




O conceito de salutogênese é de Anon Antonovsky. Quando Rudolf Steiner faleceu, Antonovsky tinha dois anos de idade. Steiner, este ano, faria 150 anos de vida.
Etimológicamente, salutogênese significa origem da saúde: do latim salus (saúde) e do grego gênese (origem).
De 1970 a 1978, Dra. Michaela fez seus estudos de Medicina. Para ela, o conceito de saúde elaborado pela Organização Mundial de Saúde deixa muito a desejar, pois para a ONU, saúde é "bem-estar físico, anímico e espiritual". Segundo ela, isso não diz nada e para isso não é necessário estudar medicina.
Hoje, sabe-se muito a respeito de saúde. Em 1979, criou-se na Alemanha a primeira cadeira que cuida da Saúde; hoje, existe a Ciência da Saúde.
É interessante ver o que desencadeia um movimento novo. Por ser alemã, aquilo que fez Antonovsky (que era judeu), toca-a muito. Imigrado para os EUA, estudou sociologia médica. Após a guerra, surgiu um estado judeu e Antonovsky transferiu-se para Israel, em 1980. Na Universidade de Bersheva, foi incumbido da saúde de senhoras idosas. Descobriu algo que o surpreendeu muito: entre as idosas, as sadias eram sobreviventes do holocausto. Pelos estudos médicos, os sobreviventes deveriam sofrer de síndromes pós-traumáticas intensas. Obviamente, existiam portadoras destas síndromes, mas a maioria era saudável. Então ele começou questionar a razão de tais dados e os seus encontros com essas senhoras lhe permitiram chegar às suas descobertas. A partir daí, resumiu o conceito do que confere/concede saúde: COERÊNCIA, referindo-se à RELAÇÃO.
A vida é um sistema inter-relacionado, o mais complexo que se conhece. Cada sistema, cada célula precisa ter um meio interno com ritmo, certas funções. Além de um meio interno regular, temos contato com o meio externo, somos um sistema aberto.
Uma das vivências mais bonitas de Dra. Michaela, na sua experiência com escolas, durante 10 anos, foi sobre a diferença entre o vivo e o novo. Uma menina lhe respondeu que o que é vivo, precisa de contexto, uma coerência interna e externa. Antonovsky dizia que: o que não se adequa ao ambiente, prejudica-se muito fortemente. O aspecto decisivo é sentir uma relação boa com o ambiente. Esse sentimento de coerência se vincula à:
·         Compreensão
·         Vivência de algo com sentido
·         Manuseabilidade (como lidamos com as coisas)
Nossa alma precisa dessas três competências: pensar, sentir, querer.
Na escola, uma criança que não compreende nada, não consegue ficar bem, sente-se doente.
Às vezes compreende, mas acha tudo muito tedioso, chato. Isso não é saudável também. Os sentimentos vão para o vazio, não se estabelecem relações, fica tudo muito solto.
Numa terceira situação, ela compreende, [as coisas] tem sentido, mas não consegue fazer nada daquilo que os outros conseguem. Isso também é pouco saudável.
A descoberta de Antonovsky percebe que esses três sentimentos são fundamentais para a manutenção da saúde, que deve ser atingida até os 25 anos. Antonovsky não conheceu Steiner e não se refere a ele, mas ambos têm a mesma visão.
Se se tem uma visão de mundo e é possível adequar as coisas a ela, com um sentido, isso é saudável; caso contrário, tudo se perde. Uma visão de mundo que me dê sentido me concederá sentimento e capacidade de manusear sensatamente [a situação]. Como ter uma visão de mundo tão dinâmica, compreendendo a si próprio e ao mundo? Quando valorizamos alguma coisa, ela passa a ter sentido para nósquando conseguimos lidar com alguma coisa que se afina conosco e com nosso contexto, somos beneficiados por isso.
Abraham Maslow fazia parte dos psicoterapeutas positivistas, era um humanista (não era psicanalista). Maslow estava estudando as condições para a saúde da alma e descobriu as mesmas coisas que Antonovsky e algo mais. Entre as pessoas mais sadias, sobreviventes do holocausto, estavam as que tinham experiências espirituais, experiências “apicais de outro caminho”. Entende-se como nessas condições anti-humanas do holocausto, não deve ter havido poucas pessoas que tiveram experiências da proximidade de Deus.
Antonovsky descobriu três qualidades para que as relações se otimizem. Como psicólogo, as viu como procedentes das relações inter-humanas. Uma relação interpessoal concede saúde; é boa quando é honesta, sincera. Em segundo lugar, se essa relação tem cunho amoroso e, em terceiro lugar, se essa relação está permeada pelo respeito à autonomia do outro. Uma alma não se sente se não tem liberdade. Não adianta a mãe ou a professora dizer que compreende a criança; o aspecto importante é a própria criança sentir-se compreendida.
Nos sentimos compreendidos pelo outro quando somos olhados de tal maneira que não fiquemos menores ou que o outro nos coloque maiores do que somos, num pedestal. As duas situações não são saudáveis.
Goethe fez um poema à sua amada – “Eu me senti bom aos seus olhos”, que encantou Michaela. Ela conta que o poeta, antes, enviou mais de 300 desenhos da natureza, que fez para a namorada. Esta, reclamou porque ele poderia escrever uma carta de amor, um poema e não ficar enviando desenhos de pedra, árvore, nuvem... Ele escreveu-lhe dizendo: olho para a natureza com delicadeza e tenho desejo que você aprenda a olhá-la através de meus olhos.


A magia de um olhar amoroso é fonte de saúde. Quanto mais sinceridade e respeito recebemos, mais nos sentimos sadios na alma.


*Michaela Glooeckler: médica pediatra, co-fundadora da Aliança da Infância, trabalha pela preservação internacional da Pedagogia Waldorf, da Agricultura Biodinâmica. É médica antroposófica, cuida do currículo social voltado à infância)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pedagogia da esperança

     A esperança cristã se desenvolve através das experiências humanas, por isso, é importante favorecer aquilo que pode permitir o crescimento de uma verdadeira esperança e lutar contra o que pode afundá-la.
    
7.1 Despertar a confiança
     Cultivar um otimismo sadio, sem ingenuidade e sem esquecer os problemas e dificuldades, é uma maneira cultivar a esperança. Motivar as pessoas, ajudando-as a encontrar estímulos que a impulsionem a atuar, crescer, empreender novas tarefas e propor-se novas metas são maneiras positivas de cultivar esperança.
     Todos podemos ser estímulo e fonte de esperança para os demais. Toda graça que recebemos pode converter-se em graça para os demais. Estamos chamados a ser graça para os outros. Trata-se de viver, atuar e ser de tal maneira que seja uma sorte encontrar-se conosco.
     Uma maneira de começar é não fazer a vida mais difícil e dura do que já é, para ninguém. Que a vida seja melhor, mais humana, mais suportável ali onde eu esteja, onde eu atue, fale ou mova-me. Saber criar por onde eu passe, um clima no qual seja mais possível a esperança.
     Devemos nos lembrar sempre que a bondade de Deus manifesta-se, sobretudo, através da bondade dos homens.

7.2 O desenvolvimento de uma atitude positiva
     A pessoa sem esperança tende a adotar uma atitude negativa; a pessoa toda se faz negativa: seu olhar, sua inteligência, seus sentimentos, suas atitudes.
     É preciso que essa pessoa introduza em sua vida um olhar diferente, uma valorização e um apreço positivo das pessoas, das coisas e dos acontecimentos. Necessita encontrar-se com pessoas que vivam positivamente e saibam apreciar e olhar a vida com olhos mais confiante; pessoas que a ajudem a descobrir que a vida não se reduz a esse problema, que a vida é sempre mais. Que ela pode, ao invés de ver a vida toda a partir daquele problema concreto, vê-lo a partir da profundidade da vida toda.
     Aqui é onde a pessoa que crê pode ajudar a curar a desesperança. "Nós sabemos que, em todas as coisas, Deus intervém para o bem dos que o amam (Rm 8, 28). Nossa vida não é alheia a Deus. Não há nenhum sofrimento ou fracasso, nenhuma solidão, traição ou pecado, fechado ao amor ou à graça de Deus.
      A partir da fé pode-se ajudar as pessoas a ampliarem seu olhar; junto a pensamentos negativos e danosos, podem brotar pensamentos mais amáveis e nobres; junto a sentimentos tristes e derrotistas, podem nascer outros mais luminosos e pacificadores; junto a avaliações mais duras e implacáveis, pode haver atitudes mais compreensivas e flexiveis; junto a decisões complicadas podem suscitar-se determinações mais nobres e dignas.
     Temos que exercitar-nos mais em descobrir o positivo da vida das pessoas e dos acontecimentos. O negativo é mais cômodo e fácil de ressaltar; o positivo exige mais esforço, mais atenção e mais fé. Contagiar olhar positivo, pensamentos, sentimentos, atitudes positivas é gerar esperança.

7.3 A acolhida mútua, fonte de esperança
     As pessoas que sabem acolher semeiam esperança ao seu redor.
     A acolhida mútua, o partilhar de maneira positiva as dificuldades da existência geram esperança. Se soubermos estar junto à pessoa que sofre e partilhar suas preocupações, se essa pessoa souber que, pelo menos junto de nós pode estar segura e manifestar-se como é; sabendo-se aceita, lentamente a esperança será despertada nela, crescerá sua confiança na vida, ela pode abrir-se a caminho para o Deus da esperança.
    Esta acolhida não é questão de técnicas ou destrezas aprendidas. É uma maneira de ser, de viver, de não passar distante de quem necessita de nós. É uma maneira de dar um rosto histórico ao Deus invisível e misterioso, que é acolhida infinita e insondável.

7.4 A compreensão e a oferta de futuro
     A verdadeira acolhida implica uma atitude de compreensão, de empatia, de maneira que quem se sente desesperançado possa sentir que será compreendido. Esta atitude gera esperança.
     É preciso começar por não depreciar ninguem, sequer interiormente. Saber compreender. Lembrar sempre que as pessoas não necesseitam de nossa crítica, mas de força para mudar.
     É necessário perguntar-nos o que podemos fazer para humanizar a vida, para introduzir uma qualidade nova nessa pessoa, nessa sociedade. As pessoas, mais do que nossa condenção, necessitam de nossa ajuda.
     A atitude mais humana e humanizadora é: crítica exigente em meio à sociedade, perdão e oferta de reabilitação a cada pessoa. Uma sociedade não se renova nem cresce em esperança apenas atirando pedras sobre os culpados.

*Fragmentos do livro Es bueno creer. Para uma teologia de la esperanza - José Antonio Pagola
   
    

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Esperar contra toda esperança

Algumas tarefas da esperança na sociedade atual

Reunião do dia 30 jul. 2011

      Os cristãos foram acusados de ter posto seus olhos na outra vida e terem se esquecido desta. Contudo, a esperança na "nova criação" consiste, precisamente em buscar e esperar a plenitude e realização total desta terra. Ser fiel ao "futuro final", querido por Deus, é ser fiel a este mundo até o final, sem desesperar de nenhum anseio e sem frustrar nenhuma aspiração verdadeira humana.

Tarefas da esperança cristã hoje:

      Abrir horizonte: a vida é muito mais que esta vida; a realidade é mais complexa e profunda do que nos quer fazer crer o realismo; as fronteiras do possível não estão determinadas pelos limites do presente. O futuro do ser humano está sendo gestado no meio da história, as vezes absurda e mediocre que levamos.
      O cristão realista e lúcido aproxima-se da realidade como algo inacabado e a caminho; não aceita as coisas como são, mas como deverão ser.

      Criticar a absolutização do presente: quem ama e espera o futuro de Cristo não pode conformar-se com a realidade tal como está hoje. A esperança introduz contradição com a realidade presente, era protesto, desperta da apatia e da indiferença próprias do homem contemporâneo; desinstala. Sempre é possível transformar a realidade em algo mais parecido ao que será a "nova humanidade".

     Introduzir sentido humano no progresso: a crítica da esperança a este mundo injusto não é um não de mera existência em meio à covardia geral dos "escravos satisfeitos". É um não construtivo que nega o presente para construir uma realidade distinta e melhor. O cristão sente-se impelido por sua esperança, a trabalhar incansavelmente por criar já, agora, dentro possível, isso que sabemos já encontrar-se na história humana como possibilidade prometida por Deus: uma sociedade realizada no amor, na justiça e no perdão. A esperança cristã deve contradizer hoje, de maneira particular, essa utilização pragmática da técnica que atende apenas a eficácia e o rendimento, descartando qualquer outra consideração sobre a dignidade humana como irrelevante e sem interesse. Pode-se programar o futuro de outra maneira; pode-se dar um "rosto mais humano" ao progresso.

sábado, 18 de junho de 2011

Esperar contra toda esperança*


Perfil da esperança cristã hoje

Reunião do dia 18 jun. 2011


·    Enraizada em Cristo: atitude permanente, estilo de vida; nasce do Senhor, brota só do Senhor.

·    Em tensão para o futuro: olhar no futuro (da história e das coisas). Não se detém naquilo que é possível constatar pela experiência, busca o prometido em Cristo. Vê tudo em marcha, movendo-se para a vida definitiva. Tudo é penúltimo. Acima da alegria ou tristeza, olhar as coisas tal como um dia deverão ser.

·    Esperança arriscada: apoia-se na promessa do que ainda não se pode comprovar. Não se trata somente de esperar, mas de atrever-se a esperar, inclusive contra aquilo que se tem diante dos olhos, quando a experiência diz que não há nada que esperar. Uma esperança que apoia-se na fidelidade de Deus, mas que sofre tentações: a dúvida (O que é possível para Deus? Quanto Deus ama a humanidade, quanto perdoa, quer mesmo salvar?); a covardia (de não nos atrevermos a esperar; ficamos paralisados, sentindo-nos incapazes de realizar a tarefa hoje); aparente segurança e invulnerabilidade (segurança que irrita; não se pode confundir segurança com a certeza da fé.; ninguém possui Deus com segurança: a Deus busca-se, espera-se. Em Deus se confia).

·    Esperança crucificada: cresce, purifica-se e se consolida no mal e frente ao mal. O Deus cristão não é o Deus todo-poderoso que nos arranca para fora da história e magicamente nos transporta à vida eterna. O caminho real para a ressurreição é a cruz. É preciso relativizar o mal, vive-lo em suas verdadeiras dimensões: não há situação, por mais difícil que seja, que não esteja aberta ao amor de Deus. Na vida sempre há saída.

·    Esperança paciente: estamos a caminho, orientados por uma meta que ainda não se alcançou. É preciso tolerância ativa, inteireza, perseverança, resistência ativa, saber “enfrentar a adversidade”. Aos impacientes e aos resignados, Chamado à paciência: não é possível o cumprimento sem espera, nem separar o joio do trigo agora; paciência histórica de Deus

·    Esperança lúcida: projeta luz sobre a realidade; ilumina a vida e permite entendê-la melhor; busca uma coerência final. Atitude vigilante: estar no mundo sem ser do mundo. Discernir os limites do que é possível sem resignação, sem fanatismo ou impaciência.

·    Esperança inconformista: não se habitua à injustiça, à fatalidade da morte, à mediocridade do ser humano. Inquieta-se sem descanso. Protesta, perturba, torna-se incômoda em busca de uma sociedade melhor. Sem resignação diante do sofrimento.

·    Esperança solidária: não espera só para si.

·    Esperança criativa: impulso à ação. Fazer o que espera. Projeto de ação e compromisso. Aquele que não muda a terra não crê no céu. Frutificar talentos.
*Fragmentos do livro Es bueno creer. Para uma teologia de la esperanza - José Antonio Pagola

terça-feira, 31 de maio de 2011

Esperar contra toda esperança *

Reunião do dia 28/5/2011

Cristo, nossa esperança

A Ressurreição de Cristo, fundamento de esperança
     A esperança do cristão tem nome: Jesus Cristo. E fundamenta-se em um fato: sua ressurreição. A esperança do cristão, capaz de "esperar contra toda esperança" nasce do crucificado, que foi ressuscitado por Deus. Nele nos é revelado o futuro da humanidade, o caminho que pode levar o homem à sua verdadeira plenitude: a morte não tem a última palavra. O ser humano pode esperar algo mais do que simplesmente brota das possibilidades próprias do homem e do mundo.
    A ressurreição é a última palavra de Deus sobre o destino final dos maltratados: a miséria, o desemprego, a humilhação, a exploração não são a realidade definitiva da vida. Quem luta por um mundo mais justo e solidário, um dia conhecerá Jesus.
    A resssurreição de Cristo revela que há perdão para o homem e que seguindo seus passos caminharemos até o Seu destino final.
    Temos também que colocar-nos: que exigências concretas tem para nós, hoje, a pessoa de Jesus e sua mensagem. O que podemos esperar dele? Que possibilidades concretas encontram-se em Cristo ressuscitado para a história humana?
    Cristo é nossa esperança e a partir dela, aprendemos a crer em Deus e a desvendar o sentido último do homem.

O Deus da esperança
    Este é o verdadeiro nome de Deus.
    Em Cristo nos foi revelado que "Deus é amor (1Jo 4, 8), porém, amor ressuscitador. Por isso, Deus é para nós o Deus da Esperança (Rm 15, 13). Não só o Criador, mas o ressuscitador, que no final, realiza a "nova criação". Deus está no início e no final.
    A partir dessa perspectiva, podemos dizer que o peculiar de Deus é, sobretudo, o futuro último. Deus está presente em nossa vida, prometendo, garantindo e abrindo futuro. Mais que dentro de nós ou acima, temos Deus diante de nós.
    Deus não descansará até que a vida que nasceu de seu amor insondável de Pai vença, definitivamente, a morte e apareça a "nova criação" em todo o seu esplendor. Não se revelará plenamente como Deus Salvador até que o homem alcance sua "humanização plena". Sua justiça e seu perdão não se manifestarão em plenitude, até que Deus seja tudo em todos (1Cor 15, 28). Enquanto isso, tudo se encontra a caminho: a ação salvadora de Deus, a força transformadora da ressurreição, a construção da nova humanidade. E Deus está aí: "Eterna presença do triunfo de Cristo crucificado" (J. Moltmann).

O homem tem futuro
    Com a ressurreição de Cristo, Deus introduz na história humana algo que deve ser captado como novo. Algo que não se pode deduzir das leis gerais da história ou do progresso humano. Um futuro novo que "revoluciona e transforma as pobres expectativas humanas" (M. Fraijo). Não se trata de uma possibilidade nova dentro do mundo e da história, algo que o homem possa conseguir com seu esforço, mediante a racionalidade científica e técnica, mas a nova possibilidade que Deus oferece ao mundo e que o homem pode acolher como graça.
    As novas possibilidades abertas pela ressurreição obrigam a olhar e compreender a história de modo novo. Na história humana, nem tudo são dados, medidas e datas. O futuro do homem não se reduz a projetos, programas e extrapolações, que às vezes geram otimismo e outras, pessimismo. O espaço para a esperança cristã ultrapassa tudo o que pode ser projetado e preparado pelo homem. Por isso, a esperança que brota de Cristo ressuscitado pode manter-se e crescer contra toda esperança, inclusive em momentos de crise, incerteza e pessimismo.
    A partir desta esperança cristã, qualquer momento da história é sempre um tempo que não contém ainda toda a justiça, a libertação e a vida que esperam o homem. Nunca estamos "no melhor dos mundos". Tudo pode melhorar e transformar-se, orientando-o até esse futuro prometido na ressurreição. A história não acabou. Sempre é possível a mudança, a transformação, a luta por uma humanização mais plena.

*Fragmentos do livro Es bueno creer. Para uma teologia de la esperanza - José Antonio Pagola

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Homem, imagem e semelhança de Deus

Texto extraído de: “O inconsciente espiritual” ,  Jean-Claude Larchet , Páginas 22 e 23
Colaboração: Anísia

A antropologia cristã tem uma característica essencial: não concebe o ser humano independentemente de sua relação com Deus. Esta relação com Deus caracteriza o ser humano ao mesmo tempo em seu ser e em seu vir a ser.
A base da antropologia cristã é bíblica e reside na afirmação de que o homem foi criado à imagem e à semelhança de Deus (Gn 1,26). Esta afirmação, ainda que se encontre no livro do Gênesis e apareça no contexto da criação do homem, não diz respeito somente ao primeiro homem, mas aplica-se a todo ser humano. Portanto, refere-se à natureza mesma do ser humano e é constitutiva de sua definição.
A imagem designa sobretudo a constituição natural do ser humano. O homem é a imagem de Deus em sua própria natureza, sobretudo pelas faculdades superiores que possui: seu intelecto (nous), sua razão (logus), sua vontade (thelema, thelesis), sua faculdade de escolha (proairesis), seu poder de amar. Mas, um certo número de comentários patrísticos sublinha que o ser humano, na realidade, é um ser à imagem de Deus pelo conjunto de suas faculdades.
Enquanto a imagem é dada de imediata ao ser humano, como constitutiva de sua natureza, a semelhança deve ser adquirida pessoalmente por ele: consiste nas virtudes, nas disposições habituais ou estados espirituais que unem o ser humano a Deus e o tornam semelhante a Ele. Podemos dizer que a imagem de Deus refere-se mais particularmente ao ser do homem, enquanto a semelhança refere-se mais especificamente a sua maneira de ser, mais exatamente a seu estar bem, e inicialmente ambas apresentam-se a ele como um dever-ser.
Entretanto há uma relação estreita entre a imagem e a semelhança.
Em primeiro lugar, a imagem é o que permite ao ser humano realizar a semelhança: é sobre a base dos poderes ou faculdades constitutivas da imagem e por meio de sua energia que o ser humano poderá efetivar as virtudes pelas quais se realizará a semelhança.
Em seguida, como sublinham alguns comentários patrísticos, as virtudes já estão presentes em gérmen na própria natureza do ser humano e cada pessoa tem como tarefa fazê-las crescer em si mesma. Assim, segundo o livro do Gênesis, Deus não diz “ Criemos o homem a nossa imagem, em vista de nossa semelhança”, mas “a  nossa imagem e a nossa semelhança”, porque a semelhança já foi dada, em uma certa medida, ao ser humano desde a sua criação: o ser humano foi criado sendo orientado para realização da semelhança e começando já a realizá-la.
Enfim, na realização da semelhança a imagem realiza sua finalidade e encontra seu acabamento e sua perfeição. Assim um indivíduo dotado de inteligência, de vontade e de livre arbítrio, mas que não fosse moderado, casto, desinteressado, meigo, humilde, bom etc..., não seria uma pessoa realizada nem perfeita ( cf. Ef 4,13).

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Esperar contra toda a esperança*

Reunião do dia 31/4/2011


Capítulo 3
Alguns traços do homem desesperançado

Quando em uma sociedade morre a esperança, a vida da pessoas deteriora-se. Sociólogos e psiquiatras descrevem, em suas análises, os traços que parecem definir, de maneira cada vez mais clara, o perfil do homem desta sociedade sem esperança. Destacamos alguns:
  • sem metas nem referências: não têm certezas firmes nem convicções profundas; busca muita informação, mas isso não o ajuda a ser mais sábio e profundo; incapaz de fazer uma síntese das inúmeras informações que lhe chegam;
  • homem light: esvaziado do verdadeiro conteúdo humano, como os modernos produtos de baixa caloria e atenuados em sua força natural (leite desnatado, café descafeinado...); um homem interessado em muitas coisas, mas de maneira superficial, com pouca profundidade, sem critérios básicos de conduta; chama o sexo de amor; ao prazer, de felicidade, aos programas televisivos, cultura.
  • homem hedonista: só lhe interessa, de verdade, organizar a vida da forma mais prazeirosa possível; aproveitar, desfrutar, sugar: a vida é prazer e se assim não for, não é vida. Apenas interessam o próprio bem-estar, o seu dinheiro ou passar bem; busca-se o mais fácil, o mais cômodo, o que se pode conseguir apenas mostrando o cartão de crédito. Êxito é sinônimo de dinheiro. Resistência em aceitar normas ou códigos de comportamento. "Bom é o que eu gosto e mau o que eu não gosto" é a regra que não aceita proibições; nada de objetivos nem ideais maiores: "o que importa é o que me convém".
  • espectador passivo: aparentemente está em movimento, mas não vai a parte alguma - é massificado, produtor, consumidor, automobilista, receptor da indústria do ócio, configurado pela cultura televisiva - cada vez mais incapaz de pensar livremente, tem repostas preparadas, quais as emoções "tem" que sentir, que comportamento tem a adotar; um "bárbaro civilizado" que vai alcançando graus cada vez maiores de incopetência, ignorância e falta geral de responsabilidade.
  • individualista e solidário: quando não se tem esperança em um futuro melhor para todos, cada um busca resolver seu problema - é o "salve-se quem puder", o "cada um com seus problemas"; importa ganhar dinheiro, seja como for; "vale tudo" para conseguir benefícios. Os grandes valores éticos, na prática, são substituidos pelos interesses particulares. "Tudo se compra e se vende" (Cláudio Magis).
  • buscador de segurança: na crise, o homem contemporâneo busca segurança - exigem-se leis e fronteiras mais restritas para os estrangeiros, repressão mais dura para os delinquentes, contratam-se guardas de segurança, os ricos instalam sistemas de proteção. Ninguém quer pensar responsavelmente nos que sofrem miséria e mal-estar. Caldo de cultura para novos racismos, xenofobias e tendências neoconservadoras.
  • diferentes rostos da desesperança: a falta de esperança reflete-se de diversas formas na vida das pessoas. Os sinais de desesperança são fáceis de observar: falta de decisão, de entusiasmo, vida apagada, sem força e calor; a pessoa faz mais ou menos o que tem que fazer, porém a vida não lhe plenifica. Mesmo que o indivíduo esteja satisfeito com suas atividade e sucessos, não espera grande coisa da vida nem de si, nem dos demais: fica fechado no seu viver diário. A falta de esperança também se manifesta sob a forma de cansaço: a vida torna-se pesada, enfadonha; a pessoa sente-se sufocada pelo peso da vida e pouco a pouco cai na indiferença e na preguiça total. Há falta de alegria, incapacidade de apreciar o belo, o bom, a grandiosidade da vida. Tristeza e mau humor tornam-se a tônica. Vazio. A vida se empobrece, o indivíduo envelhce interiormente.
Cristo nossa esperança
É no meio desta sociedade carente de esperança que nós cristãos temos que "dar razão de nossa esperança" (1Pe 3, 15) a nós mesmos e às pessoas com as quais partilhamos a vida. Uma esperança que não é uma utopia a mais, nem uma reação desesperada frente às crises e incertezas do momento, mas que tem suas raízes em Jesus Cristo, crucificado pelos homens, porém, RESSUSCITADO POR DEUS.


Síntese das discussões

  • indiferença ao IMPORTANTE;
  • muita informação dificulta a síntese/alienação
  • superfície/profundo: próprio bem estar X coletivo
  • limite/cuidado importantes na educação
  • Espectar X esperar. Espectar: pensam por mim; só pode gerar busca de segurança. Esperar: sou eu que penso; gera confiança, segurança verdadeira.
  • perversidade do sistema capitalista e do sistema político: desesperança incentivada
  • ideologia: esconde/articula de maneira insuficiente, impedindo de ir às causas
  • Denúncia deve ser acompanhada de anúncio

Textos de apoio utilizados

Sugestões

  • Pedro Pedreiro
     
  • Desesperar jamais
     



*Fragmentos do livro
Es bueno creer. Para uma teologia de la esperanza - José Antonio Pagola

domingo, 3 de abril de 2011

Esperar contra toda esperança

Fragmentos do livro
Es bueno creer. Para uma teologia de la esperanza - José Antonio Pagola

Reunião do dia 26/03/2011
Capítulo 3

    A esperança é algo constitutivo do ser humano. O homem vive caminhando para um futuro, sua vida sempre é busca de algo melhor. Não pode viver sem esperança; deixaria de ser homem. Necessita de um alento de esperança que anime sua vida.
    A falta de esperança fecha o caminho para a felicidade. A pessoa fica sem o estímulo necessário para crescer. O desalento apodera-se do indivíduo; tudo fica envolto pelo ceticismo e pela desconfiança. Falar de felicidade pode tornar-se até irritante.
Por outro lado, a ausência de esperança mina as forças de quem tem que se enfrentar com o sofrimento. O mal faz-se mais duro e penoso. Sem esperança é difícil encontrar a atitude sadia que dê sentido aos conflitos e ao sofrimento do viver diário.
(...)
A partir de uma perspectiva cristã, pode-se dizer que, crer em Jesus Cristo é redescobrir a esperança final, que anima a existência humana.
(...)
Quando, em uma sociedade, a esperança enfraquece, a vitalidade decai e a vida corre risco de degradar-se. O mesmo se pode dizer da comunidade cristã. A Igreja de Jesus Cristo está chamada a ser "a comunidade da esperança". Sua tarefa é despertar a esperança no mundo e aí encontra sua verdadeira identidade, o que a converte em "testemunha do ressuscitado. Se a Igreja, minada ela própria por seu pecado, mediocridade ou covardia, não tem força para gerar esperança, está frustrando sua missão.

Onde o ser humano pode encontrar uma esperança para viver com sentido e responsabilidade?
A partir de que horizonte se pode iluminar o seu caminhar?
Como recuperar a esperança numa sociedade sacudida por crises tão graves como as de nossos dias?
O que é que move hoje a vida e a atuação da Igreja? O instinto de conservação, a busca de segurança ou a esperança viva que o Espírito do Ressuscitado infunde no coração dos crentes?

Uma sociedade necessitada de esperança
São muitos os traços sombrios que caracterizam o momento atual da sociedade.
  • Desmistificação do progresso: não se cumpriram as grandes promessas que foram feitas a partir do Iluminismo; o mundo moderno continua cheio de crueldades, injustiças, insegurança. " A nossa é, definitivamente, a época do mal-estar e da incerteza, do desengano e do desânimo diante das grandes palavras prometidas" (Coelho Pires)
  • Fim da história: para muitos pensadores, é uma ilusão pensar que estamos "fazendo a história", pois os fatos e acontecimentos que estamos vivendo não levam a parte alguma. Aparentemente, qualquer modelo de sociedade parece derivar cedo ou tarde para o sistema neocapitalista liberal.
  • Perda de horizonte: a humanidade parece estar chegando à sua velhice. Os acontecimentos atropelam-se uns aos outros, porém não conduzem a nada novo. “O progresso converte-se em rotina” (A. Gehlen). A cultura do consumismo produz novidade de produtos, porém só para manter o sistema no mais absoluto imobilismo. A consequência inevitável é o cansaço. O ocidente está profundamente cansado. Cansado de si mesmo. O homem moderno é fundamentalmente “espectador”. Um ser passivo que participa de uma engrenagem que não é impulsionada por ele e cujo horizonte não chega a alcançar.
  • Desfrute imediato: quando não se espera nada do futuro, o melhor é viver o dia e desfrutar ao máximo do momento presente - cultura do hedonismo e do pragmatismo.
  • Vazio do afazer utópico: poucos são os que se comprometem a fundo para que as coisas sejam diferentes. Há uma grande indiferença pelas questões coletivas. Individualismo, narcisismo, apatia democrática, desprestígio das instiuições políticas e empobrecimento da vida pública.
  • As consequências da "guerra econômica": a crise generalizada de esperança é vivida de maneira diferente nos diversos pontos do planeta - os privilegiados (EUA, Europa, Japão) competem entre si para consolidar seu poderio econômico; os paises subdesenvolvidos (continente latinoamericano, países orientais e do leste) cada vez mais veem ameaçados seu futuro precário e o continente africano fica praticamente excluído. 
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